Powered by Smartsupp Sociologia Apostila
Sociologia Apostila

Sociologia Apostila

INTRODUÇÃO


O objetivo aqui é apresentar alguns conceitos básicos da Sociologia, partindo, para isso, de situações sociais cotidianas. Uma eleição, uma escola e uma greve são tomadas como exemplos de situações nas quais as ações de indivíduos e de grupos de indivíduos só podem ser compreendidas nas suas inter-relações recíprocas. Ou seja, essas ações, presentes no cotidiano da vida em sociedade, não dizem respeito apenas à ação individual, mas também à ação social e, por isso, são o objeto de estudo da Sociologia. Assim, as principais teorias sociológicas clássicas estarão interessadas principalmente no problema da relação entre indivíduo e sociedade. Os conceitos de Émile Durkheim (fato social), Max Weber (ação social) e Karl Marx (classe social) são apresentados como tentativas de explicação dessa relação. Em seguida, a discussão se dirige para a relação entre a vida do indivíduo, sua biografia, e a sociedade mais ampla na qual está inserido, mostrando-se que as biografias individuais só podem ser compreendidas quando situadas no contexto histórico mais amplo.



                                              IDEOLOGIA: UM CONCEITO POLÊMICO 


O conceito de ideologia foi criado por Destutt de Tracy, filósofo francês, no final do século XVIII. Tracy tinha como pressuposto que as ideias não poderiam ser compreendidas como se possuíssem vida própria. Segundo ele, a ideologia deveria ser compreendida como "ciência das ideias", assemelhando-se às ciências naturais. Na elaboração desse conceito, partia-se da crença na razão (própria do espírito iluminista do século XVIII) e no poder da ciência em submeter as ideias ao mesmo processo de análise e compreensão dos objetos naturais. Esta é a razão da concepção da ideologia como ciência - como ciência das ideias. 


Raymond Williams afirma que o conceito de ideologia pode ser definido, basicamente, de acordo com três concepções básicas: 


1. Como sistema de crenças de uma classe ou grupo social. Nessa concepção estariam incluídos os valores, idéias e projetos de um grupo ou classe social específico. 


2. Como sistema de crenças ilusórias - o que se costuma chamar de "falsa consciência". Essas crenças ilusórias, baseadas em critérios impossíveis, de ser comprovados, contrastariam com o conhecimento verdadeiro ou científico. 


3. Como o processo geral de produção de significados e ideias.


Conforme Williams, as duas primeiras conotações serão as mais encontradas no pensamento marxista, vertente que se destacou no estudo da ideologia.


No livro A ideologia alemã, Marx e Engels apresentarão os três elementos básicos que caracterizarão sua compreensão da sociedade capitalista e sua definição de ideologia (definição como veremos, fortemente apoiada nas duas concepções destacadas por Williams). Esquematicamente, esses três elementos são: 



  • Separação - resultante da afirmação da divisão da vida humana em duas instâncias específicas: a infraestrutura, que é a esfera da produção material, e a superestrutura, esfera da produção das ideias. De maneira muito simplificada, podemos dizer que a infraestrutura se compõe da economia (a produção dos bens necessários à sobrevivência dos homens) e a superestrutura se constitui da moral, do direito, da política e das artes. 

  • Determinação - relação decorrente da separação entre infraestrutura e superestrutura. Partindo dessa separação, observa-se o domínio estabelecido pela infraestrutura sobre a superestrutura. Serão as relações de produção que irão determinar (definir) a organização social - as formas de comportamento e de convívio entre os homens. Conforme o princípio da determinação apontado por Marx e Engels, as ideias têm sua origem na vida material - e são por ela determinadas. Mas o que é essa vida material? São as relações de produção que os homens estabelecem entre si, as quais dependem, por sua vez, das relações desses homens com os meios de produção - terra, máquinas, matérias-primas, fábricas, força de trabalho. Será, portanto, a esfera econômica (a organização da produção material, com a sua diferenciação entre possuidores e não possuidores dos meios de produção) que irá organizar as ideias sobre essa sociedade.



  • Inversão - elemento constitutivo fundamental do conceito de ideologia, considerada distorção da realidade. Numa metáfora famosa do livro A ideologia alemã, a ideologia faz com que a vida apareça para os homens como no interior de uma câmera fotográfica: de cabeça para baixo. Isto é, ela aparece para os homens de maneira inversa àquilo que é na realidade. Nesse contexto, o conhecimento científico, ou saber real, será o elemento capaz de desmascarar a ideologia, recolocando o mundo de cabeça para cima, mostrando a realidade tal como ela é. Segundo Marx e Engels, destruindo a inversão que a ideologia produz, o conhecimento científico vai revelar os mecanismos de separação e determinação. 




Para compreender a sociedade capitalista a partir dessas três relações (separação, determinação e inversão) estabelecidas por Marx e Engels, não podemos tomá-las como formas imutáveis e inquestionáveis. No que diz respeito à definição de ideologia, por exemplo, é fundamental que se note que, ao longo do tempo, os próprios autores acabaram relativizando a conotação mistificadora que inicialmente deram ao conceito (essa relativização aparece no prefácio de Para a crítica da economia política, escrito por Marx, em 1859). Além disso, eles também relativizaram a questão da determinação estrita da esfera econômica (infraestrutura) sobre a superestrutura (em cartas que escreveu a outros pensadores, Engels reconheceu um certo grau de independência - ou autonomia relativa - da superestrutura diante da infraestrutura). É preciso que se diga finalmente que, ao longo do tempo, os elementos destacados por Marx e Engels serão questionados, reinterpretados ou aprimorados por outros pensadores (inclusive e principalmente os de linha marxista), o que comprova não serem esses elementos formas congeladas e irretocáveis de compreensão da realidade.


De qualquer modo, retomando o tema da ideologia na obra desses autores, é interessante observar que ele veicula uma relação fundamental, que é a oposição entre os conceitos de falso e de verdadeiro. Em A ideologia alemã, parece haver espaço para dois tipos de ideias: as falsas ou distorcidas (em resumo, a própria ideologia) e as verdadeiras. Essas ideias verdadeiras seriam construídas pela ciência e funcionariam como as armas necessárias para combater a classe dominante. Para Marx, a ciência seria a ciência do proletariado, a única classe capaz de transformar a sociedade. Produto de uma época em que se acreditava que a sociedade poderia e deveria ser transformada por meio da razão, A ideologia alemã, conforme a antropóloga brasileira Eunice Durham, apresenta a ciência como instrumento capaz de alcançar a justiça social que a ideologia impediria de ser obtida. 









OS AGRUPAMENTOS SOCIAIS


Os grupos sociais


A própria natureza humana exige que os homens se agrupem. A vida em sociedade é condição necessária à sobrevivência da espécie humana.


Desde o início, os homens têm vivido juntos, formando agrupamentos, como as famílias, por exemplo. Para o sociólogo Karl Mannheim, os contatos e os processos sociais que aproximam ou afastam os indivíduos provocam o surgimento de formas diversas de agrupamentos sociais, de acordo com o estágio de integração social. Tais formas são os grupos sociais e os agregados sociais


Vamos analisar inicialmente os grupos sociais: aqueles que, devido aos contatos sociais mais duradouros, resultam em formas mais estáveis de integração social. Nos grupos sociais há normas, hábitos e costumes próprios, divisão de funções e posição sociais definidas. Como exemplos temos: a família, a escola, a igreja, o clube, o Estado etc.


O Grupo social é a reunião de duas ou mais pessoas, associadas pela interação, e, por isso, capazes de ação conjunta, visando atingir um objetivo comum.



O individuo, ao longo de sua vida, participa de vários grupos sociais. Os principais são:


  • grupo familial – família;

  • grupo vicinal – vizinhança;

  • grupo educativo – escola;

  • grupo religioso – igreja;

  • grupo de lazer – clube, associação;

  • grupo profissional – empresa;

  • grupo político – Estado, partidos políticos.


As principais características de um grupo social são:


  • pluralidade de indivíduos – há sempre mais de um indivíduo no grupo; grupo dá idéia de algo coletivo;

  • interação social – no grupo, os indivíduos comunicam-se uns com os outros;

  • organização – todo grupo, para funcionar bem, precisa de uma certa ordem interna;

  • objetividade e exterioridade – os grupos sociais são superiores e exteriores aos indivíduo, isto é, quando uma pessoa entra no grupo, ele já existe; quando sai, ele continua a existir;

  • conteúdo intencional ou objetivo comum – os membros de um grupo unem-se em torno de certos princípios ou valores, para atingir um objetivo de todo o grupo; a importância dos valores pode ser percebida pelo fato de que o grupo geralmente se divide quando ocorre um conflito de valores; um partido político, por exemplo, pode dividir-se quando um parte de seus membros passa a discordar de seus princípios básicos;

  • consciência grupal ou sentimental de  “nós” – são as maneiras de pensar, sentir e agir próprias do grupo; existe um sentimento mais ou menos forte de compartilhar uma série de idéias, de pensamentos, de modos de agir; um exemplo disso é o torcedor que, quando fala da vitória de seu time, diz: “Nós ganhamos”;

  • continuidade – as interações passageiras não chegam a formar grupos sociais organizados; para isso, é necessário que elas tenham uma certa duração; como exemplo, temos a família, a escola, a igreja etc.; há, porém, grupos de duração efêmera, que aparecem e desaparecem com facilidade, como, por exemplo, o mutirão.






OS ESTUDOS DA SOCIEDADE HUMANA


De que se ocupam as Ciências Sociais?


Observando a sociedade, percebemos que as pessoas caminham, correm, dormem, respiram. Mas elas também cooperam umas com as outras no trabalho, recebem salário, descontam cheques, fazem reuniões para melhorar a produção, entram em greve, casam-se, estudam, divertem-se.


Como vemos, as pessoas apresentam os mais variados comportamentos. Alguns desses comportamentos – como andar, respirar, dormir – são estritamente individuais, que se originam no indivíduo enquanto organismo biológico. Esses tipos de comportamento são estudados pelas Ciências Físicas e Biológicas. Por outro lado receber salário, fazer greve, casar-se são comportamentos sociais, pois só existem porque existe a sociedade, porque ao longo da História o homem organizou sua vida em grupo. Cabe às Ciências Sociais pesquisar e estudar o comportamento social humano e suas várias formas de organização.


  • Sociologia: estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações que ocorrem na vida e sociedade. A sociologia abrange, portanto, o estudo dos grupos sociais; da divisão da sociedade em camadas; da mobilidade social; dos processos de cooperação, competição e conflito na sociedade etc. 

  • Economia: estuda a atividades humanas ligadas à produção, circulação, distribuição e consumo de bens e serviços. São fenômenos estudados pela Economia a distribuição de renda num país, a política salarial, a produtividade de uma empresa etc.

  • Antropologia: estuda e pesquisa as semelhanças e diferenças culturais entre vários agrupamentos humanos, assim como a origem e a evolução das culturas. Atualmente, tem-se preocupado não só com a cultura dos povos pré-letrados, como também com a diversidade cultural existente nas sociedades industriais. São objetos de estudo da Antropologia os tipos de organização familiar, as religiões, a magia, os ritos de iniciação dos jovens, o casamento etc.

  • Ciência Política: estuda a distribuição de poder na sociedade, bem como a formação e o desenvolvimento das diversas formas de governo. Estuda, por exemplo, os partidos políticos, os mecanismos eleitorais etc.


Não existe uma divisão nítida entre essas disciplinas. Embora cada uma se ocupe preferencialmente de um aspecto da realidade social, elas complementam umas às outras e atuam frequentemente juntas para explicar os complexos fenômenos da vida em sociedade.


O objetivo das Ciências Sociais é aumentar o máximo possível o conhecimento sobre o homem e a sociedade, através da investigação científica. As Ciências Sociais cumprem, portanto, um papel fundamental num mundo de mudanças e agitações sociais. Elas nos permitem entender melhor a sociedade em que vivemos e compreender os fatos e processos sociais que nos rodeiam.










AS DESIGUALDADES ENTRE OS HOMENS


Ao menor contato com a vida social, percebe-se, de imediato, que os indivíduos são diferentes. Essas diferenças se expressam no plano das coisas materiais, da religião, da personalidade, da inteligência, do físico, da raça, do sexo, da cultura, dentre outros.


As diferenças supracitadas devem ser consideradas como os aspectos elementares da manifestação das desigualdades, que podem ser físicas ou sociais, ou seja, são as formas mais simples de se perceber que os homens não são iguais.


A um olhar mais atento à sociedade em que vivemos, logo iremos perceber que há indivíduos que moram em favelas, e outros em mansões. Há pessoas que morrem de fome, de desnutrição, enquanto outras se alimentam em excesso. Há indivíduos analfabetos que nunca tiveram acesso a escolas e há aqueles que possuem a melhor formação escolar.


Cada sociedade gera formas de desigualdades específicas, que são os resultados de como essas sociedades se organizam. As desigualdades se manifestam de um modo diferente no Brasil, nos Estados Unidos, na Índia, nas Filipinas ou, ainda, na África do Sul. As desigualdades assumem feições distintas porque são constituídas a partir de um conjunto de elementos econômicos, políticos e culturais próprios.


Desigualdade: a pobreza como fracasso


O desenvolvimento da industrialização, a partir do século XVIII, propiciou o crescimento econômico capitalista, e as relações entre o capital e o trabalho tomavam formas correspondentes a essa sociedade que se solidificava. O capitalista (o patrão) e o trabalhador assalariado (o operário) passam a ser as personagens principais dessa nova organização social.


O liberalismo – que se desenvolveu no século XVIII – foi a justificativa encontrada para o novo mundo e o novo homem que surgiram com o crescimento do capitalismo. Noutras palavras, o liberalismo tinha como base a defesa da propriedade privada, a liberdade de comércio, a igualdade perante a lei. A concepção de sociedade e de homem que vigorava na sociedade medieval estava sendo absolutamente transformada.


O triunfo do homem de negócios (o capitalista) era exaltado como uma virtude (burguesa), fato que justificava a necessidade de dar-lhe todas as credenciais, uma vez que ele realizaria a riqueza para o bem de toda a sociedade. O enriquecimento particular era apresentado como forma de benefício para todos os indivíduos.


Louva-se o homem de negócios como a expressão do sucesso, e sua conduta serve de modelo para a sociedade como um todo. A riqueza é mostrada como fruto do trabalho e a todos acessível por intermédio dele. A pobreza (indicador fundamental das desigualdades), em contraposição, é produto do fracasso pessoal, e a sociedade não é responsável por sua existência.


Os pobres, no entanto, teriam que colaborar para a preservação dos bens dos ricos, uma vez que estes lhes davam trabalho e, mais ainda, não deveriam se revoltar contra sua situação para não criar dificuldades para os patrões, que não eram culpados de serem ricos.


Divulga-se a ideia de que os pobres deveriam preservar os bens de seus patrões, tais como máquinas e ferramentas. E também a idéia de que Deus os vigiava constantemente no seu trabalho. Portanto, perder tempo na execução de sua tarefa era roubar o patrão que lhes estava pagando por uma jornada de trabalho.


Ao pobre recomendava-se paciência, religiosidade e seriedade como forma de aceitação das novas regras morais que se iam estabelecendo. É interessante notar que não era mais apenas em nome da ausência de graça divina que se justificava a pobreza, como ocorria até o século XVII. Combinavam-se, agora, o fracasso e ausência de graça.


Edmund Burke, no século XVIII, ao discutir se o governo e os ricos deveriam ou não atender às necessidades dos pobres, argumentava que ninguém poderia ajudá-los, uma vez que a providência divina os havia abandonado. 


Supletivo tire suas Dúvidas (11) 94717-0966
Mande um E-mail [email protected]
Envie seus Documentos